sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Escondendo o Bom e Mostrando o Ruim

De: [pessoa que notou num verso algo que há escondido em mim]
Para: Lupo
Pergunta: 
Pode me explicar como a gente esconde o bom e mostra o ruim? Bjs meus.
 
Resposta:

Olá! Tudo bom?

Mostrar o ruim é fácil quando se entende o motivo. Quanto a esta nova pergunta (pq mostrar o ruim e esconder o bom?), tenho duas respostas: uma longa e outra curta.

A curta: Tenho medo. Vamos a longa:

Luto constantemente contra o meu ego, tanto no dia-a-dia quanto mais especificamente nas sessões de terapia. Por algum motivo ainda por mim desconhecido, sinto que não posso "vomitar" ao mundo as bênçãos que Deus me deu e que me fazem diferente dos outros. Se fizesse isso, é como se eu me colocasse "acima" daqueles que não a tiveram, e conseqüentemente, colocaria-os, relativamente, "abaixo".

Divaguemos.

É bíblico que àquele que divulga as boas coisas que faz já está recebendo a recompensa no ato da divulgação. Em outras palavras, àquele que sacia o seu egocentrismo está se privando de uma premiação maior em termos etéreos. Por outro lado, as coisas ruins que fazemos terá seu pagamento. Penso que a noção católica de "pecado" (ou yang, ou preto, ou ímpar na visão espírita, vc escolhe a dualidade) está diretamente relacionada com a consciência de cada indivíduo, que por si só é um universo. Desta forma, o que seria "pecado" pra você pode não ser para o outro, e vice-versa. Para mim, e de forma insconsciente, demonstrar os meus talentos é um "pecado", mas não julgo quem o faz. São apenas seres mais (ou menos) evoluídos do que eu. Só isso. Um dia, todos chegaremos lá.

Voltemos.

Isso vai doer... Sou uma pessoa inteligente e tive oportunidades para aprender muitas coisas. Sou craque em ciências tecnológicas e tenho enorme facilidade para entender as pessoas (psicologicamente falando, e por causa disso muitos me acham "sensível"), tenho uma ótima escrita e consigo compreender qualquer coisa que eu queira, desde que não esteja relacionada ao meu inconsciente (infelizmente, não tenho controle racional algum sobre ele). Eis o meu grande demônio.

É como se eu tivesse algo muito importante, mas que não poderá nunca ser usado. Imagine uma criança que tem um brinquedo, mas que ficará para sempre trancado numa caixa transparente e inacessível.

Para sempre? Espero que não. Veja o caminho que estou tentando seguir:

Se tenho realmente os dons que te falo, seria mais sensato dividí-los com as pessoas, e transmitir-lhes àquilo que eu acho certo e, eventualmente, até poderia aprender alguma coisa. É errado privar os outros das coisas boas que podemos oferecer, não é mesmo? Será que realmente coloco a outra pessoa abaixo de mim quando digo, por exemplo, que o amor maior significa roubar apenas metade da dor do outro, e não ela inteira? Ou dependendo do caso, até mesmo não roubar dor alguma, e deixá-la sofrendo apenas com a dor física? Será que menosprezo o outro ao publicar num site de internet uma foto minha, que achei bonita, de frente ao espelho? É certo errar uma palavra de propósito só para que àquele que perceber o erro possa ter o mérito de corrigí-la, ou mesmo imaginar que não sou assim tão perfeito? É claro que isso são exemplos, sou um grão de areia perto da perfeição, e em âmbito maior, de Deus.

Quando escrevo este texto, exercito a "arte" de me permitir. Sinto-me mal dizendo que "sou isso" ou "sou aquilo". Isso nunca foi natural em minha história. Sempre fiz apenas o suficiente, com medo de aparecer mais do que outro. Olha que coisa doida: Nas mesas de bar com os amigos, eu ficava calado quase o tempo todo, e quando falava, era algo meticulosamente pensado. Fazia tudo para o som parecer "normal" no que se refere ao tom, as palavras usadas, ao momento... Tudo programado!

Foram raros os momentos em que me senti bem em ambientes externos, ou ainda quando estava acompanhado de pessoas com as quais não tinha MUITA intimidade. Cerveja? Não gosto! Mas quantas vezes tomei só para parecer igual! Ah! Como sofri simplesmente por ser diferente, por não consegui levar para o meu inconsciente a noção de que todos são diferentes, e é isso o que nos torna iguais. Ainda hoje, quando digo "oi", é um som mudo e programado, que mal sai de dentro de mim e que muitas  vezes nem é ouvido pelo outro. Eu não sou especial, e muito menos anormal. Ou sou, mas todos também são catzo!

Esta "prisão" que há em mim é o que eu mostro. As pessoas não íntimas que convivem comigo me enxergam como alguém muito inteligente, mas demasiadamente instrospectivo. Para entender melhor, é como se eu tivesse um nível baixo de autismo. O melhor de mim está cá dentro, ansioso para ser divulgado ao mundo. Se vão ou não aceitar as minhas diferenças é outra história, e gostaria de dizer que pouco me importa. Mas eu preciso crescer... Há um menino em mim, que tem medo de fantasmas.

Só para terminar, isso que falo é o eu "fora da internet". Na internet, através de blog, orkut, msn, etc., sou menos instrospectivo. Hoje, tento colocar mais cor, mais som, mais cheiro e mais toque em meus relacionamentos com o mundo lá fora, mas é um processo... e um processo que não quero seguir se para isso eu tiver que me violentar de alguma forma. Tudo tem seu tempo, e se não tiver, quero ao menos sentir que sou feliz, mesmo de vez em quando.

Eis porque eu escondo o bom e quase sempre mostro o ruim. Se eu fosse psicólogo, adoraria ter um "eu" como paciente, pois o mal do século está em mim, e tenho a perfeita noção de quem é o meu adversário.

13 comentários:

Faa Cintra disse...

Querido, faça sempre o que te deixa feliz.
Mostrando o bom ou ruim não importa, desde que não faça mal a ninguem.
As vezes te acho meio complexo, mas adorei te conhecer mesmo assim, e sei que ainda é pouco, mas a medida que o tempo passa você me mostrando bom ou ruim, vou adorar sempre...

Tenha um bom dia!!
beijos

Talles Azigon disse...

Querido Lupo não se sinta mal em dizer que você é isso ou aquilo, por qual motivo imposta pela sociedade que não podemos afirmar as nossas crenças e os nossos rótulos, mesmo que seja o não ter rótulos?

é para isso que existe a arte para nos permitir e nos comunicar com o mundo, o bom artista é aquele que fala o que sente, seja solidão, ódio ou o quer que seja.

grande abraço

Blog da Fofa disse...

Eu nunca lhe vi mostrando o lado ruim, ao contrário, só vejo o lado bom. Lógico que tem defeitos também, todo mundo tem, mas suas qualidades os superam infinitamente. Engraçado como somos tão parecidos... Na necessidade de aprovação, na carência, na dificuldade em sermos compreendidos.Eu tbm já bebi cerveja para parecer igual aos outros. E até tinha uma comunidade no orkut: Autistas por opção... Lupo cada vez mais aumenta minha admiração, meu gostar, carinho e respeito pela fantástica pessoa q vc é. Bjossssssssssss

Maria Helena disse...

Meu querido,

É difícil encontrar na vida alguém com um senso de realidade tão apurado. Mesmo que você não verbalize uma só palavra, os meus olhos já percebem que estou diante de uma pessoa especialíssima e que faz a diferença.
Eu acho o máximo pessoas que se pintam sobre a luz e a sombra. Acho salutar reconhecer o que é luz e o que é sombra. Até porque só se percebe a luz porque existe sombra. São faces da mesma moeda e contribuem para a integridade do ser.
Então, meu amigo! Mostre-se! Você só encantará os amigos.
Sou sua fã!

lolipop disse...

Olá Lupo!
Estava lhe devendo uma visita e queria conhecer mais de vc, sim. Há muito tempo que vou lendo seus comentários noutros blogues, mesmo antes de vc chegar ao meu cantinho. Gosto de observar a naneira como as pessoas interagem com os posts. Permitem-nos uma primeira visão de quem comenta. Muitas vezes mostram ...o bom e o ruim.
Percebo bem essa sua "inoperância" com o mundo, porque também sou um pouco assim.
Mas sabe de uma coisa?
Há uma vantagem em ser assim. Só chega até nós quem realmente vale a pena...
Ternuras

LyRodrigues disse...

Pode ser impressão minha, mas nunca vi nada escondido...

Sempre vi essa mistura de anjo, lobo, gênio, louco. Talvez porque vi a alma antes.

Enfim, pode ser impressão minha

Lupo disse...

Eis que escreví um texto mostrando um lado que não gosto de mim mesmo. Achei que muitos não comentariam, mas vocês comentaram, e me deixaram lindas palavras. Como eu posso me negar este presente? Estou me sentindo tão querido!

Obrigado!

Touché disse...

Lupo :
Acho que o mais importante nisso tudo é a coragem de se expor. E, se expondo, criar uma empatia. Estou chegando agora ao seu blog, depois de ver seus comentários em diversos outros. Um abraço e bom fim de semana

Catiaho Reflexod'Alma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catiaho Reflexod'Alma disse...

upo.
Lamento que o tenha entristesido com meu comentario la na sua Moça e aqui no post.
Podia ter pedido para ir la no blog da sua moça e ler logo por la o que escrevi.
Veja. não acho correto você falar em liberdade e tolir logo a MINHA liberdade de expressão.
Cara, eu estava com livro na mão,eles viam Simpson,
sentei-me na sala, lia rm voz BAIXA pra mim lindos poemas .
Meleca! Eu não via tv, eu lia na sala!
Então do nada mudaram de canal
a cena que descrevi com o lugar cheio de gente, pensei ser moradores na rua, perguntei, me disseram que eram jornalistas de todo mundo. Carniceiros a meu ver.Não são carniceiros eu sei, estão a trabalho, para contarem a nós tudo que acontece. Eu sei disso!!!
Mas me dou ao direito de me aborrecer e não ver.Posso?
Você pega um espaço do acontecido que não citei e se torna meu algoz apontando incoerência!
Fala serio Lupo!
Posso ler Vinicius falando de amor e vendo a guerra na tv, percebendo o prazer de quem vê me deu o direito de abraçar o livro e sair da sala. Meu marido foi atras de mim, eu ja sentada no chão chorando, ele disse: vem tiro do canal SEI QUE NÃO SE SENTE BEM. Eu disse: Não. Voces estão certos, eu estou errada. Me deixe aqui com Vinicius.
Ele entendeu e voltou a ver.
O que o texto da sua Moça tem a ver com isso?
Eu ja estava em casa quando li, foi o gancho pra me fazer chorar e soltar o que estava preso me fazendo mal(não texto dela o sentimento dessa guerra).
O texto dela é lindo ,leve, lúdico.
E gatilho ou gancho em literatura teatral é abertuta para tirar de dentro o que esta preso.
Essa é ultima vez que explico algo que acham que escrevo pra ofender.
Quando é um elogio dizer que um texto é gatilho ou gancho.
Não há nada que valorizo mais que a liberdade de expressão: A de todos que escrevem,
MAS MINHA TAMBEM.
Se escrita fosse para ser explicada seria tese,
mas não é, escrita é para pensar, como o texto de Carol fez em minha direção: me fez pensar em seguida me deu campo para me expressar.
Não contem comigo para comentar e dizer: muito bem parabéns, não sou professora para dar conceitos,alias acho ridículo. Sou poeta e aprendo com o que leio.
Bjins

Néia disse...

Oi Lupo...
Conheci o blog da Carol há pouco tempo, mas tempo suficiente para ver seu talento, sensibilidade e responsabilidadeno no que escreve.Vendo seus comentários, deu vontade de te conhecer, assim estou aqui também e gostei muito.Entretanto ao ler este último comentário gostaria de deixar uma pequena observação, já que estamos num país livre, onde cada um fala o que bem quer.
Sou professora de educação infantil e não acho legal reduzir uma categoria ao termo "Muito bem ou simplesmente dar conceitos", não que eu não faça isto. Aliás, acho o elogio uma delícia, não que críticas não sejam bem vindas, entretanto seguir um blog na minha opinião, e olha que sou nova neste mundo online, é como frequentar a casa de um amigo, tem que ser gostoso tipo compartilhar. Se não gosto se não me agrada eu não vou, nem amarrada.Alguém pode retrucar, mas amigos brigam se desentendem. Tudo bem, são amigos, mas acho que não é o caso. Acho sim que comentários e críticas só com cautela e respeito. Não quer elogiar,acha ridículo penso não ser neste espaço o local mas apropriado para tal pensamento.
Talvez quem sabe como crítica de alguma editora, mídia ou sei lá.
Peço desculpas por ter entrado nesta polêmica, mas acho a Carol muito responsável no que escreve.
Beijos Néia

Lupo disse...

Oi Néia!

Obrigado pelo seu comentário e pela sua opinião. Concordo com você em tudo o que disse.

Para quem não sabe do que se trata, acesse: http://pensamentosdolupo.blogspot.com/2010/11/de-pessoa-que-notou-num-verso-algo-que.html

Bjo Néia!

Néia disse...

OI Lupo
Agora mais equilibrada gostaria realmente de comentar este quase depoimento de vida. A verdade é uma só, vivemos em mundo que dita regras e modelos de como se vestir, comer e viver. Como viver virou um estilo de vida. Quem está fora do padrão,está perdido...
Acho que esta é a grande belza de internet, pois diante de uma tela conseguimos evocar sentimentos adormecidos que ganham vida e são socializados. É doido demais vc imaginar que está dividindo a sua vida com pessoas que vc nem conhece( fisicamente) mas que de uma certa maneira te escuta te entende e quer de uma forma diferente e ainda estranha para muitos te ajudar.
Como ja disse no meu blog acho lindo quando algu´´em defende algém,se abala e acha que esse alguem vale a pena.Isso sim é tipico de poeta que antes da razão, usa a emoção, por isso escreve coisas lindas saídas do coração.Fique feliz por que ninguém é um anjo ou demõnio o tempo todo...
Beijos e vou lendo com calma, pois final de ano tenho deixado relatório de lado para ler blog, tô danada...
Beijos e até

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